Ernesto São Thiago é advogado atuante em Direito da Orla
e consultor em desenvolvimento náutico.
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Setores da esquerda, por meio de ação movida pelo Ministério Público Federal e sustentada por ambientalistas alinhados ideologicamente, querem impedir novas ligações de esgoto na Bacia da Lagoa da Conceição. Alegam, sob o pretexto de proteção ambiental, que o sistema estaria saturado — mas o objetivo real é outro: frear o crescimento urbano da região. Essa tentativa de vedar novas ligações ao sistema operado pela CASAN, inclusive para obras regulares e legalizadas, tem por trás uma estratégia explícita de impedir o adensamento habitacional e comercial, congelando o bairro no tempo e no espaço. Trata-se de um projeto de cidade excludente, que ignora o crescimento das famílias, a chegada contínua de novos moradores e a necessidade de integrar todos, com dignidade e infraestrutura adequada, ao tecido urbano.
A Prefeitura de Florianópolis, em manifestação oficial juntada agora à ação civil pública, alerta que a suspensão das ligações não apenas é injustificável como pode ser catastrófica. Ao impedir que novas edificações se conectem à rede pública, empurra-se a população para soluções precárias e clandestinas, como fossas improvisadas, valas e sumidouros, agravando o passivo ambiental. Segundo o documento, o sistema existente — apesar de críticas quanto à disposição final do efluente — possui tratamento terciário com remoção de nutrientes, sendo tecnicamente adequado. O problema não está no número de ligações, mas na prestadora dos serviços: a CASAN.
A estatal, mantida por interesses políticos e sindicais, protagonizou o maior desastre ambiental da história recente da Lagoa, em 2021, e segue com um histórico de falhas crônicas: extravasamentos, interligações indevidas entre rede pluvial e esgoto, estações elevatórias que param por queima de fusível. O contrato com o município vai até 2032, mas há farta documentação apontando sua incapacidade de cumprir metas e realizar os investimentos necessários. Mesmo assim, é blindada por um pacto informal entre a esquerda ideológica, que teme a concessão à iniciativa privada, e os governantes de plantão, que não querem desagradar a estrutura político-eleitoral da empresa.
O mais grave, porém, é que a proposta da esquerda para substituir as ligações regulares — sistemas isolados como biodigestores e wetlands — além de inviáveis tecnicamente em larga escala e caros para os moradores, revela o que realmente está em jogo: não o saneamento, mas a contenção do desenvolvimento. Não se trata de preservar a Lagoa da Conceição, mas de impedir que ela cresça, como se crescer fosse pecado. Como se fosse possível congelar uma cidade. Como se urbanizar fosse agredir. E como se as soluções modernas de saneamento, mobilidade e infraestrutura não estivessem justamente no adensamento racional, que barateia custos, qualifica o espaço urbano e melhora os indicadores sociais e ambientais.
É hora de encarar a verdade: a cidade cresce, as famílias se expandem, novos moradores chegam. O papel do Estado é garantir que esse crescimento seja organizado, regulado e ambientalmente responsável — não impedi-lo por meio de teses absurdas disfarçadas de virtude. A verdadeira proteção da Lagoa da Conceição começa com o rompimento do contrato com a CASAN e a imediata licitação pública para concessão dos serviços. O resto é ideologia travestida de ação civil. E a população não pode mais ser vítima de um projeto político que, sob o nome de “sustentabilidade”, sustenta apenas o atraso.