Ernesto São Thiago é advogado atuante em Direito da Orla
e consultor em desenvolvimento náutico.
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A Ilha do Farol, também chamada Ilha do Cabo Frio, é uma das joias naturais mais bem preservadas do Brasil. Localizada em Arraial do Cabo, sua combinação de águas cristalinas, areia branquíssima e vegetação intocada a transforma em um verdadeiro santuário ecológico. Mas a ilha não se destaca apenas por sua beleza. Sua importância histórica e arqueológica, somada ao rígido controle da Marinha do Brasil, fazem dela um destino singular no litoral brasileiro.
Descoberta por Américo Vespúcio em 1503, a Ilha do Farol teve papel estratégico na navegação costeira, levando à construção de um farol em 1835. Contudo, sua ocupação humana remonta a milhares de anos. Escavações arqueológicas revelaram a presença de sambaquis, depósitos de conchas e restos de alimentos deixados por povos pré-históricos entre 2.700 e 1.200 anos atrás. Esses vestígios indicam que a ilha já era habitada por populações indígenas muito antes da chegada dos europeus, tornando-a um local de grande interesse para a arqueologia brasileira.
A fim de garantir a preservação de seu ecossistema único, a ilha é uma área de proteção ambiental sob a jurisdição da Marinha do Brasil, que impõe regras rigorosas para o acesso. Apenas 300 pessoas podem estar simultaneamente na Praia do Farol, com um tempo máximo de permanência de 50 minutos por grupo. O desembarque depende de autorização concedida via rádio pelo posto de controle da Marinha, e as embarcações que chegam após o limite já ter sido atingido precisam aguardar sua vez ou seguir o passeio sem parada na ilha.
Não há um limite total diário de visitantes, mas considerando a capacidade máxima de 300 pessoas por vez e a duração da visitação, estima-se que o número de turistas na ilha varie entre 900 e 2.100 por dia, dependendo das condições climáticas, da temporada e da demanda turística. Em feriados e no verão, a movimentação pode se aproximar do limite teórico máximo, enquanto em períodos de menor fluxo, o número tende a ser menor.
Além das restrições de acesso, há uma série de normas ambientais que devem ser respeitadas. É proibido levar comida ou bebida para a ilha, assim como consumir álcool no local. A ilha não possui banheiros nem infraestrutura comercial, o que exige planejamento por parte dos visitantes. Também é vedada a coleta de conchas, pedras ou qualquer outro elemento natural, e o uso de drones só é permitido mediante autorização.
Os passeios de barco que incluem a Ilha do Farol costumam abranger outros pontos turísticos de Arraial do Cabo, como as Prainhas do Pontal do Atalaia, a Gruta Azul, a Fenda de Nossa Senhora e a Praia do Forno. Assim, mesmo que o desembarque na ilha não aconteça devido à alta demanda, o roteiro continua proporcionando experiências inesquecíveis.
A exclusividade da Ilha do Farol reflete sua importância ecológica, histórica e cultural. Para quem deseja conhecê-la, a melhor estratégia é optar por passeios que saiam no início da manhã e contratar empresas credenciadas. Com planejamento e um pouco de sorte, é possível não apenas vivenciar um dos cenários mais espetaculares do litoral brasileiro, mas também contemplar um patrimônio que atravessa séculos de história.